Que horas ela volta?

9/11/2015        

 


Quem sabe? 

 
Tenho adoração em falar desse tema inspirador: dignidade. Uma palavra pura, simples em que não requer complemento, a dignidade soa como uma frase é completa. Atrás da dignidade há o que? E a que horas ela volta? Foi essa a pergunta que percorreu toda a história desse emocionante filme. Cegos por dogmas hipócritas somos domados, castrados e chicoteados com um sorriso no rosto. Não é só a Val, personagem protagonizada por Regina Casé... Mas quantos de nós nos submetemos a olhar no relógio, no calendário ou mesmo no céu a procura de alguma dignidade perdida. Em busca de um preenchimento chamado amor, carinho por si...
 
A que horas encontraremos uma razão decente para subir no degrau chamado Humano. A que horas iremos ceder o desejo de saborear de verdade um sorvete, de sentir o chão e de ter consciência de que pertencemos a um único universo, de que respiramos um único ar em que somos vestidos por uma pele viçosa, sensível e limitada. 
 
Jéssica queria um espaço chamado dignidade. Um direito chamado decência e uma obrigação que parecia surreal de ser tratada e enxergada do modo justo chamado humano. Val teve os dois olhos arrancados, a pele viçosa passou a ser coberta com a armadura tão cobiçada e usual chamada hipocrisia. 
 
Há uma linha torta que dá curto circuito entre hipocrisia, decência e humildade. E não existe humildade na ausência e na procura da dignidade. Somos humildes e justos quando aprendemos e no mínimo enxergamos e exigimos ser o que realmente somos: seres dignos de amor, misericórdia, perdão e verdade. 
 
Val molha os pés na piscina e junto o mundo molha os olhos de brilho e decência. Que lindo Val... Viu que é simples sentir? Sentiu que nem tudo foi em vão, não, é? Percebeu que Jéssica suspirava e expelia algo chamado amor, coragem e tudo isso com a doçura que havia nela. Sua filha era doce. Doçura que nunca a abandonaria. Uma doçura jamais encontrada no sorvete de Fabinho. Toda vez em que Jéssica era repreendida por saborear a delícia do sorvete do filho da patroa, maior era a vontade da menina de desfrutar desse amor proibido para ela. Um amor chamado sorvete que naquele lar era grande coisa pela pequenez que ali era estampada e cultivada.
 
A pequenez é ilimitada e pouco vista. A mediocridade pratica-se brincando, com leveza e mente livre. Dona Bárbara sabe bem ser leve e usar dos artifícios mais limpos e claros para praticar miudez. 
 
Afastem as cadeiras para que a limpeza comece, dona Bárbara, quem aqui se importa da senhora limpar a sala? Quem disse que somos obrigados, ninguém é.  E quanto a nós? Nós assistiremos tomando um bom sorvete de chocolate belga. Delícia, quer?  Não esqueça de limpar a alma, pois essa poeira não sai no dedo. 
 
Val... Roubou as xícaras, Val rs? Sim, você roubou o que aquela família jamais lhe trouxe: um gole quente e afetuoso de compaixão e verdade. Aproveite as voltas do mundo e gire, gire... porque a vida é um giro. Um giro lindo. Gire com o seu neto. E a nós lembremos: amor basta. Ele é o essencial.
 
 
Prestigiem essa obra do cinema brasileiro <3
 



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