Adultos feridos por terrores da infância

18/2/2016        

COMPREENDA SOBRE O QUE O ABUSO INFANTIL PODE GERAR NA FASE ADULTA

 
 
Elizabeth Thomas é uma enfermeira americana que trabalha apoiando pessoas e famílias vítimas de abuso. Mas a história de Beth é marcada por terrores. A mãe morreu no parto do seu segundo irmão e os dois ficaram sob a custódia do pai que os molestava sexualmente. Após os cruéis acontecimentos, Beth e seu irmão John foram adotados por um casal que não podia ter filhos e aí começou o drama da família, porque Beth se mostrava violenta, principalmente com o seu irmão.
 
Em abril de 1989, ela foi encaminhada a uma clínica  e após diagnóstico do que é conhecido como “Transtorno de Apego Reativo” começou o árduo processo de tratamento. Um documentário foi produzido com o nome “Child of Rage” - Criança do Ódio (A ira de um anjo), e mostrava Beth em tratamento com o psicólogo clínico Ken Magid. A criança não conseguia demonstrar amor por conta de todo o abuso que sofreu e era constantemente atormentada por pesadelos.
 
Mas nem sempre os abusos vividos na infância são relatados, o que pode transformar a criança em um adulto com graves problemas psicológicos que poderão impedir até mesmo seu convívio em sociedade.
 
Para a psicóloga Ane Caroline Janiro, é de extrema importância que o adulto que carrega consigo um abuso da infância busque apoio psicológico e fale sobre essas marcas e lembranças ao invés de se fechar: “É o início do processo para amenizar o sofrimento e lidar com as consequências do que ocorreu”.
 
De acordo com o artigo Relações entre abuso sexual na infância, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e prejuízos cognitivos, é comum em crianças que sofreram o abuso, a manifestação de flashbacks, decorrentes da ação de reviver o evento traumático. Um estado de “entorpecimento emocional” se instaura, no qual o paciente que sofre de TEPT-Transtorno de Estresse Pós-traumático, tem imensa dificuldade de descrever, expressar e receber afeto.
 
Ane explica que a criança que cresce com um trauma decorrente de abuso e não recebe ajuda, o levará consigo no decorrer dos anos: “Depois de adulta, alguns destes sentimentos comumente permanecem e a pessoa pode apresentar ainda depressão, baixa autoestima, ansiedade, timidez, fobias e outros transtornos”.
 
Segundo a pesquisa Ferida Invisível - Um Estudo sobre o Abuso Sexual e suas Consequências nos Relacionamentos Amorosos, o adulto que foi vítima de abuso quando criança, tratado como “ adulto sobrevivente” está conscientemente menos preocupado com o episódio traumático que viveu devido ao tempo transcorrido e à falta de perigo atual, além de ter adquirido defesas emocionais mais consistentes. Mas ainda assim, podem surgir sintomas como: abuso de drogas, transtornos alimentares e transtornos de personalidade. Estas seriam maneiras de tentar lidar com o trauma sofrido.
 
O estudo também aborda a dificuldade que os adultos que sofreram abusos na infância encontram para relatar sobre o que viveram e sobre a espera destes pacientes de que o terapeuta toque no assunto, para que exista a oportunidade para relatar o caso.
 
A psicóloga explica sobre a particularidade de cada caso e que a partir dos relatos do paciente é possível ajudar essa pessoa a lidar com o sofrimento e a viver de uma melhor forma apesar do que ocorreu. Mas alerta que para isso é importante que a pessoa consiga verbalizar sobre o que aconteceu para que a partir dessa vivência, o profissional possa trabalhar o caso da melhor maneira:

“Evidentemente muitas pessoas não conseguem se abrir totalmente com um psicoterapeuta logo no início do processo, mas ao estabelecer confiança e empatia, os ganhos do processo psicoterapêutico serão muito maiores quando a pessoa finalmente consegue se expor."
 
Muitas pessoas já viveram terrores como no caso de Beth Thomas, que hoje exerce um trabalho de ajuda a pessoas que passam ou passaram por aquilo que ela viveu. 
 
É apenas procurando a ajuda de um especialista que será possível se livrar dos traumas, encontrar o norte e a saída. 
 
 
 
 
 
 
Ane Caroline G. Janiro - Psicóloga Clínica (CRP 06/119556) pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo - SP. Equoterapeuta pelo Centro de Equoterapia de Jaguariúna – SP e pela ANDE - Brasil (Associação Nacional de Equoterapia). Idealizadora do Projeto e blog Psicologia Acessível, que busca tornar as práticas em Psicologia mais próximas ao cotidiano de todas as pessoas, sejam elas estudantes e profissionais da área ou não, priorizando práticas inclusivas e acessibilidade das informações e de serviços da Psicologia (www.psicologiaacessivel.net)
 
 
 
 
 
  

Fontes

 
Child of Rage - A ira de um anjo. Documentário: www.youtube.com/watch?v=8Bp-cgUQpbk
 
Relações entre abuso sexual na infância, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e prejuízos cognitivos. Autoras: Jeane Lessinger Borges/ Débora Dalbosco Dell´Aglio: www.scielo.br/pdf/pe/v13n2/a20v13n2.pdf/ref
 
Ferida Invisível - Um Estudo sobre o Abuso Sexual e suas Consequências nos Relacionamentos Amorosos. Autora:  Patricia Jacob: www.ebah.com.br/content/ABAAAA9QkAF/a-ferida-invisivel-estudo-sobre-abuso-sexual-suas-consequencias-nos-relacionamentos-amorosos?part=2
 



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