Fragilidade emocional na infância

22/4/2014        

Como as crianças podem superar o difícil processo de separação dos pais?

Quando um casamento não dá mais certo e surgem desentendimentos que não conseguem mais ser solucionados mediante conversa, o divórcio parece ser a melhor opção, mas quando o casal tem filhos e principalmente quando esses filhos são pequenos, o processo de separação costuma ser mais complicado e envolve algumas complexidades. 
 
A psicóloga Rosângela Martins esclarece importantes assuntos em torno dessa temática para que as crianças possam superar esse momento conturbado tanto quanto os pais.
 
“Quando a criança é informada de que os pais vão se separar, costuma sentir angústia e incerteza em relação ao futuro. A angústia aumenta, por que além das incertezas quanto às mudanças que ocorrerão, a criança sente que os pais estão abalados e enfrentando crises e isto gera insegurança”, explica a psicóloga.
 
Dependendo da idade da criança, pode haver a fantasia de que a “culpa” pela separação dos pais é dela, algumas crianças acreditam ter participação na decisão dos pais, ter atrapalhado algo que resultasse na decisão do divórcio. Em muitos casos, há o temor por parte da criança de que a separação trará distanciamento de um dos pais, ou pior, pode surgir na mente infantil a relação do divórcio com desamor ou abandono: “Este sentimento pode ser desencadeado por que os pais neste momento tendem a se centralizar na situação da separação, o que em parte é muito natural e os filhos ficam angustiados com esta ausência de olhar”.
 
De acordo com a psicóloga, o grau de prejuízo emocional da criança pode variar de acordo com as condições em que o processo de separação ocorre (de maneira mais amigável ou conturbada) e essas vertentes têm o poder de influenciar o estado de angustia da criança: “No entanto, mesmo em situações em que a separação se dá de forma mais amadurecida ainda assim a criança se desestabiliza com a incerteza, mas temos que entender que  a vida é mutável e que a crise faz parte da vida e esta ligada a todas as condições de mudança”.
 
Para Rosângela, quando um casal se defronta com a impossibilidade de seguir o casamento pela falta de afinidades e conflitos, a separação pode ser a melhor solução, inclusive para a criança: “Uma criança que convive com os pais juntos em uma relação não saudável tem maior prejuízo psicológico do que se enfrentasse um processo de separação”.
 
Mas alguns fatores destacados pela psicóloga podem resultar no estágio de debilidade emocional da criança: a imaturidade dos pais e a maneira como conduzem o processo de separação, em alguns casos o casal envolve as crianças nas brigas e as responsabilizam por questões que dizem respeito apenas ao casal; omitir da criança o que está acontecendo também pode prejudicá-la, por que ela não entenderá o que está acontecendo e estará despreparada para as mudanças que virão; muitos casais no período de separação se concentram na resolução dos próprios conflitos ou até mesmo se centralizam nas brigas e discussões e se esquecem dos filhos.
 
“A indicação de um atendimento psicológico à criança é pertinente quando ela não está conseguindo administrar emocionalmente este processo e demonstra um sofrimento que gera sintomas que trazem prejuízo para a sua vida”, explica a psicóloga.
De acordo com Rosângela, pais amadurecidos têm mais facilidade em encarar a situação, conseguem expor à criança o que está acontecendo, quais mudanças ocorrerão e assim a tendência é que se sinta mais segura: “Esta atitude dos pais gera na criança confiança frente à situação. Ela se sente como em um barco que pode neste momento estar enfrentando ondas bravas, mas sabe que tem alguém manobrando o timão a fim de manejar este barco até um mar mais tranquilo”. 
 
 
Rosângela Martins
Psicóloga
CRP 07/05917



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