Problemas oculares em crianças com microcefalia

25/5/2016        

 

A ATROFIA DE RETINA E ALTERAÇÃO NA PIGMENTAÇÃO DOS OLHOS SÃO OS PROBLEMAS MAIS RECORRENTES


 
Com o grande número de casos de microcefalia pela infecção do zika vírus desde o final de 2015 até o presente momento, torna-se fundamental que especialistas de diversas áreas da saúde se preparem para lidar com a reabilitação das crianças que têm a doença.
 
A Fundação Altino Ventura (FAV), centro médico de referência no Nordeste, possui foco em tratamento oftalmológico, mas também possui centro de reabilitação que envolve a área auditiva, intelectual físico-motora.
 
O oftalmologista, Dr. Vasco Bravo, esclarece que estudos têm sido realizados desde o final de 2015 até o momento e que por questões legais, não se pode falar de outras pesquisas que ainda serão publicadas em artigos em breve. Ainda assim, o médico que é importante referência em Oftalmologia compartilha informações importantes:
 
“Basicamente posso falar dos achados desses três mutirões que foram realizados em dezembro de 2015 a janeiro de 2016, onde 130 bebês e as genitoras foram examinados, o que envolveu mais de trinta profissionais, nós fomos a primeira Instituição a publicar os estudos em crianças com microcefalia pela infecção do zika, os três primeiros casos mundiais foram publicados no começo deste ano no The Lancet.”
 
A reportagem FAV constata lesão ocular em 40% dos bebês com microcefalia ligada ao zika, destaca que as duas alterações oculares prevalecentes nos bebês com microcefalia decorrente de zika são: atrofia da retina (uma espécie de cicatriz) e alteração pigmentar, que possui relação com manchas na retina.
 
O especialista explica que no último trabalho presente nos arquivos brasileiros de Oftalmologia, as mães das crianças foram submetidas a exames, dez crianças tiveram os fundos dos olhos examinados, registrados pelo equipamento RedCam, que permite o registro fotográfico, uma retinografia precisa, o equipamento permite o registro realizado de maneira adequada já que pode ser manipulado com a criança deitada, o que gera resultado de alta qualidade: 
 
“E é fundamental porque muitas vezes o exame clínico dessas crianças é difícil de ser realizado, e muitas vezes pode-se perceber alterações fundoscópicas, após a realização do exame clínico, então algumas alterações que poderiam passar despercebidas no exame clínico, podem ser examinadas melhor com as imagens do RedCam.”
 
A matéria Médicos investigam lesões oculares em recém-nascido por causa da zika, destaca que quando o trabalho de pesquisa que envolvia os três primeiros casos de bebês com microcefalia examinados foi publicado, ainda estavam em fase de investigação com mais crianças, após a publicação na revista científica The Lancet, mais cem crianças e cem mães foram examinadas em Pernambuco e na Bahia e as alterações oculares persistiam.
 
O especialista esclarece que o diagnóstico da infecção congênita pelo zika vírus ainda é presumido, porém, todas as investigações científicas até agora levam a crer que essas crianças examinadas tiveram infecção pelo zika, pois apresentam alterações oculares particulares: “Outras doenças congênitas que podem levar a alterações não trazem essas alterações tão características, além disso, as calcificações cerebrais são bem características da zika, diferente de outras manifestações da doença microcefalia”.
 
Na matéria Zika vírus pode ser causa de lesões oculares em recém-nascidos, é relatado que os primeiros bebês examinados, cujo estudo foi publicado pelo veículo britânico The Lancet, tinham calcificações cerebrais detectadas por exames de tomografia computadorizada e as mães dessas crianças não apresentavam resultado positivo para toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes simples, sífilis ou HIV – que tratam-se de infecções que normalmente possuem relação com a microcefalia.
 
O médico acredita que é importante que ações sejam tomadas prontamente:
 
“A identificação precoce dessas crianças com microcefalia e o encaminhamento para os profissionais especializados para que façam a reabilitação é de fundamental importância para que a gente consiga minimizar os dados causados por essa infecção congênita, para que a gente possa reabilitá-las ao máximo possível.”
 
A esperança de que a medicina encontre novas respostas e possa ampliar o tratamento a essas crianças não pode deixar de existir e claro, a luta contra o aedes aegypti continua.

 
 
 
Dr. Vasco Bravo – Médico especialista em Oftalmologia. Doutorando em Oftalmologia e Ciências Visuais. Membro da Academia Americana de Oftalmologia (AAO), da Associação Panamericana de Oftalmologia (PAAO) e do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).

 
 
 
Fontes
 
ICNM. 1º Congresso Nacional de Microcefalia
 
FAV constata lesão ocular em 40% dos bebês com microcefalia ligada ao zika. G1: g1.globo.com/pernambuco/noticia/2016/01/fav-constata-lesao-ocular-em-40-dos-bebes-com-microcefalia-ligada-ao-zika.html
 
Médicos investigam lesões oculares em recém-nascido por causa da zika. BBC Brasil: www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160107_zika_lesoes_olho_cc
 
Zika vírus pode ser causa de lesões oculares em recém-nascidos. SBM Sociedade Brasileira de Microbiologia: sbmicrobiologia.org.br/zika-virus-pode-ser-causa-de-lesoes-oculares-em-recem-nascidos
 



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