A endometriose, a infertilidade e os dilemas femininos

2/3/2016        

 COMPREENDA SOBRE O PROBLEMA E SAIBA SOBRE O TRATAMENTO

 
 
Dentre as doenças femininas, uma das mais complexas é a endometriose. Segundo o estudo Endometriose - Aspectos Correlatos, o impacto da endometriose não é apenas no que se refere à infertilidade, − o problema também afeta a qualidade de vida da mulher por conta da dor.
 
Larissa Matsumoto, ginecologista e obstetra, explica que a endometriose é uma doença crônica que se instaura quando o tecido que reveste a cavidade uterina (endométrio) é encontrado fora do útero:
 
“Os sintomas mais comuns são: cólicas menstruais, dor durante as relações sexuais (dispareunia), dor pélvica crônica, alterações urinárias ou intestinais no período menstrual, infertilidade e, às vezes, sangramento pós relação”.
 
Larissa esclarece que este problema acomete 10% do público feminino em idade reprodutiva, mas em mulheres que apresentam dor pélvica crônica, pode ocorrer variação de 30% a 80%, dependendo de avaliação específica e, em pacientes inférteis o número pode variar de 40% a 50%.
 
Dentre as mulheres que sofrem com a endometriose, até 50% são inférteis, mas vale lembrar que ainda não há clareza no que se refere à relação de causa-efeito entre a endometriose e a infertilidade.
 
A ginecologista explica que a taxa de fecundidade normal varia de 15-20% ao mês, e na mulher que sofre de endometriose esta taxa cai para 2-10% ao mês.
 
De acordo com o estudo Fertilidade x Endometriose, a ligação entre a endometriose com a fertilidade tem sido alvo de discussões há anos. É evidente que todos os tipos e graus de endometriose podem influenciar a fertilidade, mas o que costuma ocorrer é que o problema habitualmente é um dos últimos a ser investigado por especialistas − depois de outros problemas ligados à infertilidade. Esta ‘demora’ para a detecção do problema estaria embasada sob a superficialidade dos sintomas, sob a falta de evidências por meio de exames laboratoriais, entre outros fatores.
 
A ginecologista esclarece que apesar de muitos estudos em torno da endometriose, não se sabe ao certo a causa do problema e essa imprecisão se deve ao fator individual da paciente, já que existe um conjunto de condições que favorecem o aparecimento da doença: “São descritos como fatores de risco o tabagismo, baixo peso corporal, uso de álcool, nulíparas (mulheres que nunca engravidaram), antecedente familiar e raça caucasiana”.


E QUANTO ÀS MULHERES INFÉRTEIS?

 
 
De acordo com a pesquisa Avaliação da frequência de depressão em pacientes com endometriose e dor pélvica, o estudo com 50 mulheres com idade entre 24 e 48 anos, com diagnóstico de endometriose e queixa de dor pélvica, identificou a presença de depressão de intensidade moderada e grave em 92% deste número. A pesquisa também salienta que dentre as experiências humanas, incluindo a experiência dolorosa, leva-se em consideração os fatores físicos e emocionais e as emoções mais comuns associadas à dor crônica, são em geral, a depressão e a ansiedade, assim como o humor pode ficar comprometido interferindo na interpretação e no relato da dor.
 
“Mulheres com infertilidade devem ser avaliadas por um especialista e, dependendo da gravidade da endometriose, deve-se analisar a melhor opção de tratamento e a viabilidade da cirurgia”, orienta a ginecologista.
 
A médica ressalta que de acordo com as recomendações da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE), a supressão ovariana (infertilidade) e a relação com: GnRH (Hormônio liberador de gonadotrofina), danazol, anticoncepcionais, ou progestagênios, não aumentam as taxas de gravidez nem antes, nem após a cirurgia, e o uso antes do estímulo ovariano para FIV (Fertilização In Vitro) ainda é controverso, porém podem ser úteis no controle da dor.
 
A especialista esclarece que ter endometriose não se resume necessariamente a cirurgias ou técnicas de reprodução assistida de alta complexidade: “Para pacientes com endometriose leve, por exemplo, a inseminação intrauterina, quando bem indicada pode aumentar as chances de gestação em até cinco vezes, quando comparada com uma conduta de expectativa tradicional”.
 
A ginecologista ressalta que a cirurgia de exérese de endometriose pode reduzir a reserva ovariana (que se refere à ovulação) e neste caso, é importante avaliar com cuidado a realização deste tipo de procedimento que em longo prazo poderia impactar em um tratamento de reprodução assistida. E também explica, que a reserva ovariana pode ser avaliada pela dosagem do hormônio anti-mulleriano (AMH), FSH basal e contagem de folículos antrais – que podem indicar inclusive, a probabilidade de sucesso em caso de reprodução assistida: “E para qualquer decisão em relação ao tratamento, (a reserva ovariana) é uma das informações mais importantes para aquelas pacientes que desejam a gravidez”.
 
O que não pode deixar de ser mencionado é que a motivação individual da mulher em prol do tratamento é fundamental para driblar todas as adversidades impostas pela endometriose. Diferente do que muitas mulheres reproduzem, a endometriose não é uma sentença irreversível de infertilidade, o tratamento pode viabilizar a gestação, o que também se relaciona com a persistência no tratamento e procura por especialistas plenamente capacitados e comprometidos.
 
 



Ginecologista e Obstetra - Larissa Matsumoto
MEDICINA REPRODUTIVA 
www.vidabemvinda.com.br
 
 
 
 
 
 
 
Fonte
 
Endometriose - Aspectos Correlatos. Trabalho realizado por: Ricardo Theodoro Beck; Denise Torejane e Rodrigo Fernando Ghiggi: www.febrasgo.org.br/site/wp-content/uploads/2013/05/Femina_2006-25.pdf
 
Infertilidade x Endometriose. Guia Endometriose: www.guiaendometriose.com.br/infertilidade-x-endometriose.html
 
Avaliação da frequência de depressão em pacientes com endometriose e dor pélvica. Trabalho realizado por: Carolina Lorençatto; Maria José Navarro Vieira; Cristina Iaguna B. Pinto e Carlos Alberto Petta: www.scielo.br/pdf/%0D/ramb/v48n3/11818.pdf
 
 
 
Fontes utilizadas pela Dra. Larissa Matsumoto
 
ESHRE guideline: management of women with endometriosis, Human Reprod., vol 0, p. 1-13, 2014 
 
Endometriosis and infertility: a committee opinion, Fertility and Sterility, vol 98, 2012
 
Do endometriomas induce an inflammatory reaction in nearby follicules?, Human Reprod., vol 28, 2013
 
Endometriose, protocolo clínico e diretrizes terapêuticas, 2010
 



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