"Doenças da Beleza" afetam cada vez mais mulheres

5/7/2016     Vanessa Ferreira    

 
 

A Dismorfia Corporal, também chamada de “Síndrome da Distorção da Imagem” é um transtorno no qual a pessoa acometida se vê diferente do que realmente é, ou seja, com a imagem distorcida. O problema ganhou destaque na mídia após a jornalista Daiana Garbin, que sofre com o distúrbio, divulgar o primeiro vídeo do seu canal no YouTube, "Eu Vejo”, em que ela fala sobre distúrbios psicológicos que fazem com que as pessoas odeiem seus corpos, as chamadas “Doenças da Beleza”.

O transtorno da disfunção da imagem é reconhecido pela Classificação Internacional de Doenças e é caracterizado pela preocupação obsessiva com algum defeito corporal, que muitas vezes não é real.

Leia também: Dismorfia Corporal: A distorção da própria imagem

A psiquiatra e psicanalista Dra. Helena de Castro esclarece que nesse tipo de transtorno o paciente, não satisfeito ou preocupado com sua aparência externa, desenvolve comportamentos que visam, a seu ver, “tratar o problema que acreditam possuir”. Ela explica que o problema é mais frequente em mulheres, da adolescência até início idade adulta, principalmente.

De acordo com a especialista o problema pode prejudicar diretamente toda a vida do paciente, tanto no âmbito pessoal, como no conjugal e profissional, pois a doença é mais do que uma preocupação com a estética, a pessoa sofre com pensamentos delirantes e rituais obsessivos na busca constante por defeitos. “Por exemplo: o obeso se vê inferior, não aguenta ver-se gordo. Quando emagrece vê-se gordo. Não acredita estar magro e é isto que prevalece”, complementa a especialista.

Vivemos em uma época em que a aparência é superestimada. As capas de revistas vendem um estereótipo impossível de alcançar. É normal querer melhorar a aparência, principalmente quando envolve a preocupação com as saúde. Contudo, é importante estar atenta quando a preocupação com o exterior se torna prioridade nas nossas vidas.

A psicanalista acredita que o padrão de beleza imposto pela sociedade contribuiu para esse tipo de distúrbio. “É claro que há uma predisposição, com fatores psíquicos/genéticos – constitucionais – e ambientais (da criação da pessoa, abuso sexual, etc.) e uma exigência estética da pessoa, mas, a sociedade atual, de consumo, que muito valoriza o externo, a beleza do involucro, alia-se às dificuldades emocionais do paciente como a baixa autoestima e distorção da visão corporal”.

“Há uma preocupação saudável com o corpo, necessária, inclusive, como o ‘bem cuidar-se’: alimentar-se adequadamente, fazer atividade física e etc. Nas doenças da beleza a pessoa não se preocupa com sua saúde, antes porém, com a estética, com o externo. Com o que acha belo. É a beleza e o corpo, ‘para ele perfeito’, que o motiva”.

As doenças da beleza são enquadradas na classe dos transtornos obsessivo-compulsivos (TOC). Veja as principais:

Anorexia:

De acordo com a especialista, na anorexia, o paciente se enxerga acima do peso, mesmo já estando com peso abaixo da normalidade e, assim, não se alimentam. Aos poucos o corpo mostra os sinais da má nutrição. “Chegam à extrema magreza, desnutridos, com hipovitaminoses, com quedas de cabelo, alterações cardíacas, podendo chegar à óbito”, completa.

Bulimia:

Na Bulimia purgativa, pelo mesmo motivo, o paciente se enxerga gordo e para conseguir “perder peso rápido”, provocam vômitos após ingerir grandes quantidades de calorias. “Devido aos vômitos excessivos podem vir a ter problemas gástricos, de esôfago, oral e cáries, inclusive perdas dentarias, edema de parótidas e calos nos dedos”.

Já na Bulimia não purgativa, o paciente consome uma grande quantidade de laxantes e diuréticos, além de medicamentos para emagrecer. “Eles comem em demasia e depois ficam longos períodos em jejum. Apresentam também complicações físicas e desnutrição e podem também exercitar-se muito. São desorganizados, impulsivos e irritadiços”.

Vigorexia:

É o conhecido “complexo de Adônis”, uma insatisfação constante com o corpo, que leva a pratica excessiva de exercícios. Geralmente acomete homens. A especialista explica que na Vigorexia, os pacientes vêem-se menores do que estão, acham-se “fracos”, sem musculatura suficiente, e exageram na atividade física, principalmente na musculação. Além disso, eles ingerem anabolizantes, e suplementos alimentares sem recomendação médica e chegam até a aplicação de próteses. “Não há preocupação com a saúde, pelo contrário, seus atos prejudicam–na”.

A especialista enfatiza que a semelhança entre os transtornos é a presença de baixa autoestima. “As visões distorcidas são inconscientes, e consequentes das alterações que o paciente vê em seu próprio corpo, levando-o a excesso de preocupações incompreensíveis. Podem ter origem em alterações cerebrais (estudos recentes). Podem ter relação com alteração sutil na aparência, que exageram. Ou sensações de incompletude, de que algo não está bem. O paciente não consegue ‘ver’ o que está no espelho, mas sim, a imagem interna que tem de si”.

Tratamento:

A especialista explica que para iniciar o tratamento é importante que o paciente entenda que possui a doença e para isso, a observação da família é essencial. “Pode demorar para se perceber o transtorno de um paciente, porque escondem o vomito, fingem que comem, escondem seu quadro, pois sentem-se mal, com vergonha, com culpa pelos seus atos”.

De acordo com a psiquiatra, o tratamento mais recomendado é o clínico psiquiátrico com uso de medicamentos, pois há alterações bioquímicas, portanto, os medicamentos são indicados, objetivando melhora das mesmas. Além disso, é importante um acompanhamento multidisciplinar com médico e nutricionista, em caso de transtornos alimentares.

A psicoterapia cognitiva comportamental também pode auxiliar o tratamento, focando a diminuição dos sintomas e por fim, a psicanalise, buscando reconhecer seus valores, qualidades, possibilidade de se vê como é na realidade, se conhecer.

A especialista também recomenda o acompanhamento da família e de amigos para receberem orientações a respeito do transtorno, dos tratamentos, pois serão de grande valia, inclusive, como co-terapeutas no tratamento.

“O transtorno exige o seguimento de longo prazo, pois é um quadro grave, e além disto, recaídas podem ocorrer e, continuando com o acompanhamento, é possível cuidar”, conclui.

Dra.Helena Masseo de Castro

Psiquiatra e psicanalista, especialista em dependências químicas e atendimento a portadores de transtornos de humor nos vários níveis de gravidade, membro filiado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e colaboradora do Instituto de Psiquiatria do HC SP

 

Fontes:

http://www.joanadevilhenanovaes.com.br/imprensa/2013/Ideias%20em%20Revista%20-%20Janeiro%202013.pdf

O Mercado da Beleza e suas consequências: http://siaibib01.univali.br/pdf/Alexandra%20Shmidtt%20e%20Claudete%20Oliveira.pdf

SER MULHER, SER FEIA, SER EXCLUÍDA. Dra. Joana de Vilhena Novaes: http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0237.pdf



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