POR QUE DIZER SIM É MAIS FÁCIL?
O ser humano desde criança ao ser inserido na vida em sociedade começa a aprender algumas “regras” de convivência, dentre elas, aprende que é importante dizer sim, porque concordar pode fazer amigos e evitar discórdias. Lembra quando sua mãe dizia que deveria emprestar o brinquedo e você o emprestava com cara emburrada?
E mesmo depois na vida adulta, parece que dizer SIM é infinitamente mais fácil e muitas pessoas vivem uma realidade “comum”: se negam a negar. Sim, há pessoas que não dizem NÂO ou que afirmam que negar é algo absolutamente complicado. Será que é mesmo?
Para a psicoterapeuta Andrea Pavlovitsch, no caso de pessoas que dizem sim para não magoarem, na verdade estariam se esquivando para preservar a própria imagem, ainda que de maneira implícita. Uma pessoa que diz sim com o intuito de agradar, teria na verdade uma vaidade de demonstrar ser uma pessoa ótima, perfeita e sempre disposta a ajudar, a personalidade se torna “agradadora”.
“São aquelas pessoas consideradas muito boazinhas, muito solícitas, mas que ninguém pensa na hora de dar um aumento, sabe? Parece que a pessoa passa a ficar ali para servir. No fundo o ego está sendo alimentado, mas na prática, isso acarreta em muitos problemas sociais”, explica.
O psicólogo canadense Nathaniel Branden, no artigo Autoestima: como aprender a gostar de si mesmo, escreveu: “Posso preencher todas as expectativas dos outros e, no entanto, falhar em relação às minhas; posso conquistar todas as honras e apesar disso sentir que não cheguei a nada; posso ser adorado por milhões e despertar todas as manhãs com uma nauseante sensação de fraude e vazio”.
Para Andrea, dizer não é tão difícil para a maioria das pessoas por conta de uma educação “castradora” que não leva em conta o que as pessoas sentem, mas somente as regras sociais: “Sempre é possível dizer não. Você precisa defender a sua verdade. Você pode ser educado, gentil ao dizer não. Pode até inventar uma desculpa se isso te deixar mais confortável. Sempre vai ter alguma coisa que você vai precisar abrir mão em prol de outras”.
No artigo Liberdade e dinâmica psicológica em Sartre, a autora Daniela Ribeiro Schneider traz a reflexão de que ser livre é ter de escolher em cada situação, uma situação que aponta um campo de possibilidades de “ser” para o sujeito. Desta forma, negar e concordar são “ferramentas” deste exercício de liberdade e que sim, pode apontar novos caminhos a partir de decisões tomadas.
Muitas pessoas podem até pensar que dizer não é mais difícil porque requer uma explicação, o que Andrea esclarece que é um pensamento equivocado já que essa explicação da negação seria na verdade para deixar a pessoa que diz não mais confortável: “Queremos justificar para a coisa ficar menos “feia”, já que julgamos que é “feio” dizer não. Na verdade, é desnecessário. A pessoa vai entender o que ela quiser. Se ela tiver bom senso, você não justifica e ela entende. Se não tiver e estiver mais a fim de te controlar, mesmo que você diga que está infartando, ela não vai entender”.
A psicoterapeuta esclarece que o ato de negar depende unicamente de si mesmo, faz parte da capacidade do ser humano de entender que não é perfeito, nem “bonzinho” e que as pessoas podem e vão amá-lo mesmo assim.
No livro de Carl G. Jung, O homem e seus símbolos, há um determinado trecho que diz: “ [...] Temos inteira liberdade para escolher nosso ponto de vista a respeito; de qualquer maneira, será sempre uma decisão arbitrária”. Jung falava sobre as crenças religiosas e que dizer que se tratavam de ilusões seria tão impossível de provar quanto a defesa de uma crença religiosa em si. Diante dessa reflexão, ele diz que todos podem escolher um ponto de vista, mas que será uma decisão que dependerá da escolha de alguém, será arbitrária. Dizer não, depende também da escolha de alguém, quando alguém se nega a algo, está se negando a algo que foi “escolhido” por outra pessoa, está se negando a um posicionamento de outra pessoa.
Muitas pessoas vivem em situações que não lhes agradam como empregos que não as motivam mais, em relacionamentos que não são mais movidos a sentimentos nobres, entre outras, porque têm dificuldades em dizer não ao que lhes desagrada.
Para a psicoterapeuta, o que uma pessoa em uma situação desfavorável deve fazer em primeiro lugar é compreender o que ela “ganha” com aquilo, porque “tudo tem um ganho”, seja de atenção, de carinho ou de medo da solidão. Só depois de compreender como se chegou à determinada situação, é possível então sair dela, lembrando que as pessoas ao redor não são culpadas pela decisão individual de alguém de dizer sim ou não:
“Não é culpa de ninguém, é sempre responsabilidade nossa. Tudo o que está acontecendo na sua vida é de inteira responsabilidade sua, então é você quem precisa mudar isso. Se está ruim, se gera uma sensação negativa, investigue, até com a ajuda profissional. Precisamos de um mapa da prisão para fugir dela”.
Você tem dificuldades em dizer não? Ou melhor, você tem concordado com situações que tem lhe trazido descontentamento? Mudar dependerá de você!
Escritora e psicoterapeuta Andrea Pavlovitsch
Site: www.andreapavlovitsch.com
Fanpage: www.facebook.com/andreapavlo
Fontes
Autoestima: como aprender a gostar de si mesmo: http://www.rcard.com.br/Nathaniel%20Branden%20%20Como%20aprender%20a%20gostar%20de%20si%20mesmo.pdf
Liberdade e dinâmica psicológica em Sartre: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1517-24302006000200002&script=sci_arttext
JUNG, Carl Jung. O homem e seus símbolos. Tradução por Maria Lúcia Pinho. 5. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.