Drogas: Inúmeras complexidades

10/3/2014        

Quais os problemas atuais que o mundo enfrenta em torno desse assunto?

O assunto relacionado às drogas é recorrente e rodeado de complexidades. Pode haver consenso entre o que são drogas lícitas ou ilícitas? O álcool e o cigarro são drogas “lícitas”, mas que causam o mesmo ou até mais mal do que outros tipos de drogas, no caso do álcool, as campanhas publicitárias têm investido cada vez mais na apresentação dos diversos tipos de bebidas junto a um estilo de vida que a maioria das pessoas gostaria de ter, afinal, não há pessoas infelizes, não há dificuldades de relacionamentos e muito menos financeiras, as pessoas nas propagandas vivem uma vida repleta de delícias.
 
A psicóloga Cristiane Costa Cruz, especialista no campo cognitivo-comportamental explica que o álcool é uma droga de facilitação, seja em paqueras, festas etc., em casos de depressão, é uma substância que atua causando uma falsa sensação de bem-estar. 
 
“O álcool é uma substância muito usada por deprimidos. Quando o sujeito bebe há uma sensação de melhora da depressão, mas no dia seguinte, o efeito passa e a pessoa cai novamente. Aí tende a beber de novo, e desta forma, um ciclo é gerado. O álcool é conhecidamente associado à depressão, mas não quer dizer que todo alcoólatra seja deprimido.”
 
Cristiane acredita que as campanhas antidrogas erram quando não levam em consideração a personalidade e as características dos usuários de drogas antes do contato com a substância. “Porque sempre é pregado que a droga faz todo mal, mas não é assim. Eu trabalho muito com Bordeline – transtorno de personalidade –, e a maioria dessas pessoas já têm problemas antes das drogas. Por isso quando se junta a personalidade problemática à substância, um problema maior é gerado. Não é que a droga causou o problema, a pessoa já tinha um problema antes da droga”, afirma. 
 
Segundo Cristiane, a dependência consiste na predisposição que já existe no cérebro do indivíduo. “Tem pessoas que usam drogas e não criam dependência”, salienta. A complexidade está em torno de uma simples questão: Como alguém sabe se tem predisposição à dependência? Não há como saber antes que utilize. Por que alguém faria isso correndo o risco de se tornar dependente?
 
Vivemos em tempos difíceis em que as pessoas não querem lidar com suas dores, refletir sobre suas frustações, tristezas, enfim, querem a felicidade o tempo todo. A indústria de medicamentos vende a ideia de que a saúde está relacionada com bem-estar, constância e, as drogas com a finalidade de “inibir” a tristeza representam uma das mais consumidas no mundo.
 
“O sofrer faz parte de você enxergar uma realidade desagradável. Estamos em uma era em que a sociedade do consumo quer que as pessoas comprem medicamentos para que não tenham frustrações, sendo que a frustração é importante para que se aprenda a ter limites. E o que há, é toda uma indústria farmacêutica com interesse em vender coisas que as pessoas não precisam. Porque se você cria uma necessidade, você vende uma coisa que não precisaria existir”, explica Cristiane.
 
Seja em relação às drogas (lícitas e ilícitas), ou ao álcool e o cigarro, a intenção é camuflar a dor ou uma realidade pouco atraente. A dor faz parte da condição humana, faz parte da saúde mental do indivíduo, auxilia como sinalizador para que importantes mudanças possam ser feitas em áreas da vida que não estão indo bem. Mas se vivemos em uma sociedade que não aceita a tristeza e que quer tratar apenas sintomas e não causas de problemas, ou seja, quer apenas “soluções mágicas”, haverá aumento colossal de casos de doenças mentais no mundo. “Aumenta a quantidade de sintomas e aumenta a classificação de doenças, porque existe todo um interesse da indústria farmacêutica para classificar novas doenças para vender mais remédios”, alerta a psicóloga.
 
Cristiane salienta que há cem anos, as pessoas estavam sempre realizando alguma tarefa em prol da sobrevivência – produziam alimentos, estavam sempre realizando atividades –, e hoje o problema é a ociosidade, com a qual não estão preparadas para lidar. 
 
Quais os efeitos que esses complexos problemas poderão causar no futuro com o aumento de casos de doenças mentais?
 
Cristiane Costa Cruz é ex-presidente da Associação Mensa Brasil para pessoas com alto QI ou superdotados.

Atua na psicologia há 20 anos. Atende adultos e crianças seguindo a abordagem cognitivo-comportamental para lidar com os mais diversos problemas.

Cristiane realiza atendimentos individuais e em grupo.

 

http://cristianecostacruz.com.br/

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