Os educadores e o autismo: constante aprendizado

23/3/2016        

 

ENTENDA SOBRE ALGUMAS DAS ESTRATÉGIAS EXISTENTES PARA O DESENVOLVIMENTO DO AUTISTA

 
 
Será que as diferentes sociedades no mundo têm dado a devida atenção ao autismo? E mais, será que as escolas e os profissionais de educação estão aptos a acolher e a atuar no desenvolvimento do aluno autista?
 
A psicopedagoga e professora de educação especial Sara Costa, explica que dentre as principais dificuldades do professor hoje em relação ao autismo estão: falta de formação; falta de conhecimento do TEA (Transtorno do Espectro Autista); dúvidas sobre qual o método a seguir e o desconhecimento das opções existentes; encontrar o apoio de outros profissionais; falta de crença no progresso do aluno com TEA; falta de estrutura para acolher a família e problemas de infraestrutura que englobam falta de recursos tecnológicos.

Segundo o artigo Transtorno do Espectro Autista - TEA, o TEA é uma síndrome caracterizada por alterações presentes desde muito cedo, pode ser apresentada em crianças antes dos três anos de idade, mas o desenvolvimento da síndrome é particular em cada criança e há casos em que os sintomas podem se tornar mais visíveis ao longo do seu desenvolvimento. 
 
A criança pode apresentar comprometimento com a comunicação, com a socialização, com a imaginação, o que pode levar a dificuldades no processo da fala, no que se refere ao ato de expressar ideias e também sentimentos, entre outros sintomas.
 
A psicopedagoga explica que há várias estratégias que podem ser aplicadas para o desenvolvimento da linguagem e da comunicação na criança com TEA, como dar instruções verbais explícitas e curtas e dar uma instrução de cada vez: “Separar toda a informação é fundamental para essas crianças. Minimizar a quantidade de informação transmitida oralmente. É importante dar mais tempo para que o aluno responda uma questão e em termos de avaliação é preciso dar mais tempo a essas crianças”.
 
A especialista adverte que é importante diversificar os métodos de avaliação para que as crianças com autismo tenham a oportunidade de serem avaliadas e de demonstrarem todo o seu desenvolvimento, assim como todas as competências aprendidas.
 
De acordo com o estudo A criança autista no mundo chamado escola, o termo autismo foi usado inicialmente para caracterizar vivências ricas em pensamentos e em emoções, das representações e sentimentos pessoais, com a perda da relação com os dados e exigências do mundo em volta. O termo autismo infantil foi utilizado inicialmente pelo psiquiatra norte-americano Leo Kanner. Em 1943, ele escreveu em sua publicação Distúrbios Austísticos do Contato Afetivo, sobre um grupo composto por onze casos de crianças que se mostravam isoladas, sem habilidades para socializações, assim como foi percebido que havia falha na utilização da linguagem no momento da comunicação e um desejo ansioso para a manutenção da “mesmice”.
 
A psicopedagoga relata que há estratégias a nível de comportamento como: dirigir elogios à criança, utilizar recompensas que a motivem, atribuir prêmios, atribuir responsabilidades especiais, utilizar uma abordagem sistemática de definição de regras explícitas, entre muitas outras existentes.

“Entre os métodos que podem ser utilizados em sala de aula, destaco alguns que podem ser enquadrados em modelos de comportamento, fundamentados em teorias de desenvolvimento e, modelos fundamentados em teorias do ensino estruturadas. O que utilizamos muito em Portugal são as unidades de ensino estruturadas”, explica.
 
A especialista esclarece sobre um dos modelos mais utilizados no desenvolvimento da criança autista que é o ABA (Análise Aplicada do Comportamento). O modelo surgiu na década de 1970 nos Estados Unidos, na Universidade da Califórnia e tem como objetivo a modificação comportamental, estabelecendo ou reestabelecendo novos comportamentos: “É um método que tem como finalidade inicial o contato visual, desenvolver a habilidade da linguagem, como brincar ou fazer conta. Está mais relacionado à criatividade e ao comportamento”.

PARA PAIS LIDAREM MELHOR COM O AUTISMO E AJUDAREM NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

 
 
A professora de educação especial descreve um outro método existente conhecido como Portage, também originário dos Estados Unidos e que tem como principal objetivo tornar os pais mais competentes para lidar com a problemática dos filhos. Se trata de um programa/método desenvolvido em casa, ou seja, a criança estará em seu contexto, em sua zona de conforto.

“O que se deseja com a aplicação destes ou de qualquer outro método é que haja a diminuição de sinais descompensados. Essas crianças têm uma necessidade de atenção e conhecimento constante. Ao utilizar essas estratégias temos que ter em mente a insegurança que elas apresentam, as tensões, ansiedades, os negativismos, a frustração, as resistências às tarefas, a impulsividade”, esclarece.
 
A especialista explica que as estratégias podem ser escolhidas de acordo com o ritmo de aprendizagem do aluno, o que exige dos profissionais proatividade e que exista conhecimento científico, para a utilização de diferentes recursos e estratégias que atendam sempre as necessidades específicas de cada aluno.
 
De acordo com a pesquisa Recursos alternativos para a inclusão de crianças com autismo no ensino regular, é fundamental a qualificação de profissionais da educação para o desenvolvimento do trabalho específico com as crianças e adolescentes com autismo. Outra questão destacada é a de que é importante que o profissional se capacite continuamente para conseguir atender as diferentes necessidades dessas crianças e adolescentes.
 
A educadora destaca que a inexistência da cura para o autismo não implica na ausência de esperança: 

“Não é preciso ser um professor especial para ensinar um aluno com autismo. Ensinar um aluno com autismo fará de ti um professor especial. Espero que haja mais professores especiais para essas crianças que precisam do nosso apoio, que necessitam das nossas estratégias diversificadas”.


 
 
 
Dra. Sara CostaPsicopedagoga e professora de educação especial.



 
 
Fontes

ConAutismo – Congresso Nacional de Autismo: congresso.conautismo.com.br

Transtorno do Espectro Autista – TEA. Realizado por: Fabiana Haro dos Santos; Mariana Aparecida Grillo: revistas.unoeste.br/revistas/ojs/index.php/ch/article/view/1417/1446

A criança autista no mundo chamado escola. Realizado por: Márcia Mesquita Cardoso Alves; Rita de Cácia Santos Souza; Charles Graziênio Batista Neves: eventos.set.edu.br/index.php/enfope/article/view/1250/299

Recursos alternativos para a inclusão de crianças com autismo no ensino regular. Realizado por: Célia de Castro: repositorio.roca.utfpr.edu.br:8080/jspui/handle/1/4727



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