ESTE RECURSO É INDICADO PARA A RECUPERAÇÃO DE PROBLEMAS NEUROLÓGICOS
Desde o ano passado, muitas mulheres vivem o drama da microcefalia decorrente da infecção pelo zika vírus, e assim, muitos profissionais se viram na necessidade de aprender e desenvolver habilidades que possam ajudar na reabilitação das crianças com a doença.
A psicóloga e musicoterapeuta, Eliane Teles, trabalha na Fundação Altino Ventura (FAV) em prol da reabilitação das crianças por meio da Musicoterapia e explica que é importante que haja esforço e estimulação constante e que cada estimulação tenha um início, assim como é preciso que seja dado para cada criança um tempo, a fim de que não se canse, mas a todo momento é importante voltar à atividade de estímulo: “É necessário que se faça isso tanto para a questão da aprendizagem quanto pelas conexões neurais, que sentem a necessidade dessa repetição”.
Segundo o artigo científico português A importância da Musicoterapia na Paralisia Cerebral: percepção da equipe profissional, a música é mais do que um aglomerado de sons e o efeito que ela provoca vai além do que é provocado por cada sonoridade. O artigo também esclarece que crianças com comprometimentos neurológicos podem por meio da música, ter melhora na área cognitiva, podem adquirir melhor capacidade de atenção, de observação, de compreensão e de concentração, assim como pode melhorar o desenvolvimento da percepção e memória, melhora a linguagem, a vocalização, a pronúncia, o que também impulsiona a estimulação da criatividade.
A musicoterapeuta esclarece que os sons da natureza são os melhores sons para serem trabalhados, porque ajudam a criança a se conectar mais rápido com ela mesma. A especialista esclarece que para muitas pessoas quando se fala em musicoterapia a ideia que se tem é a de que apenas músicas fazem parte do tratamento, mas todos os elementos que compõem a música fazem parte dessa ciência: som, melodia, ritmo, harmonia e ruídos:
“Ruídos também podem fazer parte de uma organização musical, e com as crianças principalmente que ainda não têm a linguagem, o balbucio é um recurso muito usado, com ruídos que elas conhecem.”
O estudo português Intervenção Precoce e Microcefalia – Estratégias de Intervenção Eficazes, traz o depoimento de uma assistente operacional em saúde que se refere à Musicoterapia como terapia não invasiva capaz de proporcionar um desenvolvimento mais saudável e que estimula as crianças de forma mais efetiva, o inverso do que ocorre com terapias invasivas.
A especialista Eliane Teles explica que a criança procura o som quando estimulada e essa procura é tanto visual (começando pela audição) quanto pela motricidade, porque o bebê se movimenta em direção ao som.
“Todo som deve ser estimulado, os sons são diferentes e precisam ser compreendidos, assim como as cores. Em termos visuais, as cores são importantes para a estimulação e as cores são diferentes, o som também é importante para a estimulação e os sons são diferentes. Todo tipo de som, desde que não seja agressivo e nem tão forte, é interessante para essas crianças”, esclarece.
A musicoterapeuta explica que os sons cortados, intermitentes, costumam acalmar as crianças, não por serem sons tranquilizantes, mas por chamar a atenção da criança, o que se relaciona com a área cognitiva, já que em primeiro momento a criança se atenta ao som, depois se concentra, o que acalma o choro:
“E é interessante saber que tipo de choro é o da criança, o choro é a comunicação da criança, o choro de fome, por exemplo, é um choro que não vai parar por conta do estímulo, assim como um choro de dor. Mas se a criança está chorando por qualquer outro desconforto menos intenso, o som intermitente vai ajudar ela a parar, a centrar e a relaxar.”
A psicóloga acrescenta que o primeiro sentido que um ser humano recebe é o auditivo e que antes mesmo do aparelho auditivo estar formado, a criança já percebe os sons, por meio das vibrações deles.
“E quando a gente fala de estimulação, da Musicoterapia (com música e com som), a gente está falando da estimulação auditiva, da estimulação visual, do tato. As crianças sentem a vibração desde o período intrauterino, por isso que os sons produzidos chamam a atenção e a criança reconhece e presta atenção naquele som que conhece desde o período gestacional”, explica.
A musicoterapeuta enfatiza que é importante prestar atenção no tempo do bebê, no tempo que ele precisa e que o canto também é um recurso que pode ser utilizado e tem efeito positivo para as crianças com deficiências neurológicas e também para as mães, que quanto mais tranquilas estiverem, mais calma poderão passar para os bebês: “E só quando se está tranquilo é possível fazer um contato com o outro”.
O mais importante para as mães é manter a motivação e persistir no tratamento da criança, os exercícios realizados na Fundação Altivo Ventura, por exemplo, são aplicados três vezes por semana, mas para o sucesso do tratamento é importante que nos demais dias as mães continuem aplicando os exercícios em casa.
Eliane Teles – É psicóloga com especialização em Musicoterapia, faz parte da Fundação Altino Ventura (FAV) em Recife (PE) e trabalha no Centro e Reabilitação Visual e/ou Múltiplas Deficiências Meninas dos Olhos
Estudos em Musicoterapia: estudos-musicoterapia.webnode.com.br
Fontes
1º CNM. 1º Congresso Nacional de Microcefalia.
A importância da Musicoterapia na Paralisia Cerebral: percepção da equipe profissional. Realizado por: Emanuela Aurora Nunes Ribeiro: comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/4014/1/Emanuela%20Ribeiro.pdf
Intervenção Precoce e Microcefalia – Estratégias de Intervenção Eficazes. Realizado por: Leila Maria Singh de Macedo Pinto Sá: comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/4571/1/Tese_Mestrado.pdf