O desenvolvimento do autista por meio da Psicomotricidade

28/3/2016        

 

COMPREENDA SOBRE ESTA CIÊNCIA E SAIBA COMO É APLICADA COM QUEM TEM AUTISMO


 
Talvez você nunca tenha ouvido falar na Psicomotricidade. Trata-se de uma ciência que surgiu no início do século 19 e que teve início por meio da Psiquiatria.
 
A psicopedagoga e psicomotricista, Luciana Brites, explica que o principal objetivo da psicomotricidade é visualizar o ser humano da maneira mais completa possível e que dentre os estudiosos da ciência, destaca-se o Dr. Ajuriaguerra. A especialista relata que quando a França era um país devastado pela guerra e muitas pessoas tinham membros do corpo amputados, o médico psiquiatra começou a observar que mesmo após a perda de partes do corpo, as pessoas continuavam a sentir aquele corpo e foi aí que desenvolveu a Tese do membro fantasma.
 
 “Por ser uma área muito ampla, vários estudiosos de diversas áreas se renderam ao estudo da Psicomotricidade (fonoaudiólogos, educadores físicos, psicólogos, psicopedagogos, entre tantos outros). A Fonoaudiologia foi uma das áreas que mais atuou para o avanço do conhecimento em torno da Psicomotricidade, por trabalhar uma das atividades motoras mais importantes que é a fala”, explica.
 
A especialista esclarece que a ciência procura dar significação ao movimento e que engloba os aspectos emocional e cognitivo, assim como procura integrar todas as complexidades enquanto ciência em todas as etapas da vida.

 
 

 A RELAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE COM O AUTISMO


 
A psicopedagoga explica que quando se fala em Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que chama a atenção é a denominação ‘espectro’ que pode ser compreendida como sombra e, esta sombra representa tonalidades, o que explica a existência desde o autismo mais grave até o autismo mais leve, assim como existem diferentes graus de autismo com diferentes graus de problemas psicomotores:

“Há crianças com autismo, por exemplo, que não apresentaram atraso para andar, mas outras podem apresentar atrasos gravíssimos. O importante é saber que não haverá uma alteração única, o TEA é um transtorno amplo e por isso poderá haver amplas alterações motoras”.

De acordo com o estudo A psicomotricidade na aprendizagem escolar, é por meio da Psicomotricidade que a criança descobre o seu corpo, seu espaço e o mundo à sua volta, assim como percebe estímulos por meio dos seus sentidos, sensações e sentimentos, o que resulta na construção de seu próprio mundo por meio das relações afetivas e emocionais, também resultado das próprias experiências corporais.

A psicomotricista explica sobre aquilo que a maioria das pessoas costuma aprender no ingresso escolar, de que o cérebro está relacionado ao corpo e vice-versa, mas ressalta que no início do desenvolvimento é o corpo que estimula o cérebro e depois, com o passar do tempo de maturidade, é o cérebro que por meio dessa experimentação e dessa estimulação do corpo, vai passar a organizar e a controlar este corpo.

Na pesquisa Educação e terapia da criança autista: uma abordagem pela via corporal, a autora traz à reflexão segundo o artigo “Não chore por nós” de Jim Sinclair, de que o autismo não é uma parede impenetrável e de que há maneiras de aprender com o autista, de aprender sobre a sua linguagem, o que pode ajudar na compreensão do seu mundo. A reflexão também desperta para o fato de que por mais difícil e desafiador que possa parecer, há a possibilidade de troca quando a pessoa se dispõe a entrar e a conhecer o mundo do autista.

A especialista explica que as áreas psicomotoras são desenvolvidas nas crianças nos sete primeiros anos de vida e são hierárquicas, ou seja, uma área depende da outra. Tecnicamente as áreas são conhecidas como: tônus e equilibração; estruturação espácio-temporal, noção de corpo, lateralização; praxia fina e praxia global.

A psicopedagoga esclarece que dentro do Transtorno do Espectro Autista também existem comorbidades (outros problemas relacionados), a criança com autismo também pode ter alterações motoras como é o caso do TDC (Transtornos do Desenvolvimento da Coordenação) que interfere não apenas na escrita, mas em organizações como correr ou qualquer outra organização que necessite de planejamento motor.

“Autistas processam os estímulos ambientais de uma forma diferente e por isso é importante saber como trabalhar esses estímulos. Outras síndromes genéticas também apresentam alterações motoras junto com o autismo”, esclarece.

A psicomotricista explica que o diagnóstico precoce do autismo auxilia na conquista de bons progressos e isso se deve ao fato de que nos sete primeiros anos de vida da criança, o cérebro é mais moldável, mais flexível e muito mais sensível à estimulação.

“Nas pessoas com TEA, existe a dificuldade no planejamento. Quando surge algum imprevisto e dificuldades, essas pessoas encontram obstáculos para se expressarem nos aspectos motores. A expressão de coisas boas ou ruins costuma ser feita de maneira não planejada e não organizada”, ressalta.
 
A especialista salienta que uma das alterações mais presentes no autista é a dificuldade de noção corporal e de que por este motivo é essencial trabalhar a ‘discriminação’ que é ajudar a criança com o autismo a conhecer o próprio corpo. Exemplo: mostrar à criança os olhos e ajudá-la a compreender que os olhos são parte do seu corpo: “E esse é um exercício que deve ser constantemente repetido e a criança não precisa fazer apenas nela, pode fazer em um boneco, pode ser trabalhado o recurso do desenho, fotos e ilustrações, entre outras atividades”.
 
Outra atividade importante citada pela especialista para o desenvolvimento da noção corporal da criança é a nomeação, em que se dá à criança não apenas a capacidade de sentir o próprio corpo, como de nomear as partes. É ajudar a criança a compreender que a boca é a boca, de modo que ela possa relacionar o nome da parte do corpo com o significado, que possa compreender que a boca é por onde se fala, se come, se canta etc.

“Os autistas geralmente têm terapia duas vezes por semana, mas é fundamental que os pais trabalhem para o desenvolvimento do filho, que o estimule, o auxilie, coloque em prática as atividades aprendidas”, orienta.

O mais importante é compreender que o desenvolvimento do autista não é possível, é algo que pode ser executado com esforço e principalmente, com amor e dedicação.


 
 
 
 
 
Luciana Brites - Pedagoga; Especialista em Educação Especial; Psicopedagoga e Psicomotricista.

 
 
 
 
 
Fontes

ConAutismo – Congresso Nacional de Autismo: congresso.conautismo.com.br

A psicomotricidade na aprendizagem escolar. Realizado por: Adriana Aguiar Miranda: www.avm.edu.br/monopdf/7/ADRIANA%20AGUIAR%20MIRANDA.pdf

Educação e terapia da criança autista: uma abordagem pela via corporal. Realizado por: Maria Lúcia Salazar Machado: www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/1540/000350826.pdf?sequence=1
 



comentários