Mau uso de antidepressivos pode causar perda de memória

20/1/2016        

 

 

Estudo revela que primatas não-depressivos passaram a ter os sinais da doença após o consumo da medicação 

 
A ingestão de antidepressivos vem crescendo em todo o mundo. Pesquisa realizada pelo Organisation for Economic Cooperation and Development (OCDE) aponta que a cada 10 adultos um faz o uso de antidepressivo. Os países europeus estão entre os maiores consumidores da substância, como Canadá, Austrália, Islândia e outros. 
 
No Brasil cresce a ingestão de antidepressivos desde 2008, como indica a Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o aumento de 48% em vendas da medicação. Estima-se que até 2020 a depressão seja a doença mais presente no mundo. O levantamento também alerta que em 2030 as doenças psiquiátricas poderão tomar a frente até mesmo do câncer e da AIDS. 
 
A psicóloga e especialista na área de neuropsicologia Sheila Cirigola faz alguns alertas sobre o consumo dos antidepressivos e levanta o questionamento: todos os consumidores dessa substância estão realmente necessitados da medicação? A psicóloga ressalta os riscos do consumo desnecessário dos antidepressivos e a forma negativa que pode interferir nas funções cerebrais quando ingerido de modo inadequado, como por tempo indeterminado e desrespeitando as orientações médicas. Confira:

Estudo alerta quanto ao consumo da substância
 
A especialista em neuropsicologia comenta sobre a pesquisa realizada no ano passado pelo Journal of Neuropharmacology, aplicada pela Dra. Carol Shively que alerta sobre a interferência da medicação nas funções cerebrais de um indivíduo saudável. O estudo foi aplicado em primatas com estruturas cerebrais semelhantes a dos seres humanos. Foi observado que após um determinado tempo de tratamento houve o aumento de determinada região do cérebro que estava menor por conta da depressão e a falta de sinapses (zonas ativas de contato entre as terminações nervosas).
 
“Os depressivos apresentam volumes menores do cortex cingulado (que controla as emoções) e do hipocampo (sede da memória). Um dos mecanismos do medicamento antidepressivo é o de promover crescimento e conectividade entre os neurônios destas regiões”, explica. 
 
Um fator preocupante no estudo é que o primata não depressivo que recebeu o medicamento para depressão teve as regiões do cérebro reduzidas, ou seja, passou a ter os sinais da doença. O mesmo pode ocorrer com um indivíduo que não possui a doença e passa a consumir a medicação por tempo indeterminado. A especialista em neuropsicologia ressalta sobre as implicações:
“Estas duas áreas que sofreram redução são altamente interconectadas com outras áreas do cérebro e estão envolvidas com uma ampla gama de funções, que incluem: memória, aprendizagem, navegação espacial, motivação, vontade e emoção”, esclarece. 
 
A psicóloga Sheila Cirigola comenta que o estudo foi importante para informar que os medicamentos depressivos são também usados para outras doenças. “Não existem estudos sobre os efeitos que estas drogas causam nos volumes cerebrais dos indivíduos não diagnosticados com depressão, embora a ciência saiba das diferenças entre os volumes de estruturas cerebrais de pacientes depressivos e não-depressivos", salienta. 
 
Referências: 
 
http://setorsaude.com.br/consumo-de-antidepressivos-dispara-pelo-mundo/
 
http://www5.usp.br/39771/estudo-vai-investigar-uso-da-estimulacao-cerebral-como-alternativa-a-antidepressivos/
 
http://www5.usp.br/63443/pesquisa-de-novas-formas-solidas-pode-aprimorar-antidepressivos/
 
http://www2.unifesp.br/dpsiq/polbr/ppm/atu4_03.htm

                                                                       
   
Sheila Cirigola, Psicóloga    
Especialistas em Neuropsicologia
Interveções em Situações de Emergêcia e Crise
Colaboradora do LINC- Laboratório Interdisciplinar de Neurociências Clínicas do Depto. de Psiquiatria e Psicologia Médica da Unifesp



comentários