Mulheres podem e devem gozar: sexo � sa�de!

28/1/2016        

Alguns tabus em torno da sexualidade feminina

 
Falar sobre sexo é complexo e em pleno século XXI ainda é algo que gera discussões e olhares de reprovação, e quando se fala em sexualidade feminina, então?
 
O filósofo francês Michel Foucault no livro História da Sexualidade I: Vontade de Saber (1998), apresentava o sexo como um instrumento de poder e mais, falava sobre o corpo da mulher como principal objeto de estudo da medicina, o qual ele cita de “corpo saturado de sexualidade”. E sim, um corpo saturado de uma sexualidade que nem mesmo a ciência era capaz de compreender. E uma sexualidade que precisava ser regulada pela sociedade, pela cultura, pelas religiões e que não, definitivamente não deveria pertencer à mulher.
 
Segundo o estudo Sexualidade Feminina: Questões do cotidiano das mulheres, realizado pela Universidade Federal de Santa Catarina, a sexualidade feminina em especial, mesmo em uma sociedade com outros padrões de moral, ética e comportamento, é objeto de interdição e primeiramente a explicação para essa realidade está no fato de que a nossa sociedade foi altamente influenciada pela sociedade ocidental europeia, que influenciada pela ética e moral do Cristianismo, colocou o corpo e o sexo como objeto de interdição. 
 
NÃO! Essa é uma palavra imperativa capaz de destruir autonomias.
 
Hoje é “comum” que muitas mulheres vivam em relacionamentos nos quais as relações sexuais se transformaram numa espécie de “acordo de conveniência”, em que apenas o homem goza e em que a mulher talvez nunca tenha experimentado um orgasmo.
 
 
Para o psicólogo e especialista em Psicoterapia Sexual, Diego Henrique Viviani, falar de sexo é algo complicado porque normalmente as pessoas tendem a imaginar o sexo como algo instintivo: “Mas comportamento sexual é algo aprendido e a maneira como é feito perpassa, por condições culturais, históricas, compreensões de percepção de prazer e comunicação”.
 
O especialista destaca que o orgasmo sexual feminino tem ganhado cada vez mais visibilidade na mídia, mas sem muita profundidade, o que costuma criar uma série de crenças e mitos acerca do assunto. O psicólogo destaca que o público masculino também está preocupado com o orgasmo de suas parceiras, mas a controvérsia se faz presente quando as mulheres acham que “devem” o orgasmo ao parceiro e quando os homens acreditam que são os responsáveis diretos pelo prazer de suas companheiras: 
 
“Muitas vezes essas mulheres fingem orgasmos para satisfazer o parceiro, às vezes por muitos anos, chegando ao ponto de depois nem saberem como relatar sobre esta dificuldade”, explica.
 
De acordo com o estudo Sexualidades femininas e prazer sexual: uma abordagem de gênero, um dos grupos de mulheres consultado para compor a pesquisa afirmou fingir orgasmo para que seus(uas) parceiros(as) não as rotulassem como problemáticas. 
 
Para o psicólogo, o autoconhecimento e diálogo são peças essenciais tanto para a mulher quanto para o homem: 
 
“A mulher precisa se conhecer, conhecer o próprio corpo, ser capaz de falar quando está bom e quando não está, quando quer e como quer. Quando quer fazer sexo e quando não quer. Neste sentido, elas precisam se responsabilizar por seu prazer, e eles (os homens) precisam deixar a onipotência e o orgulho de lado para construírem a possibilidade de ter um encontro sexual prazeroso”, explica.
 
A questão em torno da masturbação feminina ainda é vista por muitas mulheres como algo “impraticável”, como se conhecer o próprio corpo fosse profano, quando na verdade é uma questão de saúde e de autoconhecimento. 
 
Para o especialista, é importante que se explore as muitas possibilidades para se conhecer melhor, e isso vale tanto para homens quanto para mulheres. No caso das mulheres: ou não foram permitidas ou não se permitiram conhecer o próprio corpo, já no caso dos homens, o problema está quando exploram apenas uma parte do corpo e assim, perdem 80% das possibilidades que poderiam explorar em um encontro sexual: “A masturbação e qualquer forma de autoconhecimento pode e deve se tornar uma prática regular tanto para homens, quanto para mulheres em qualquer idade”.
 
A comunicação verbal e não - verbal são as ferramentas mais importantes para que problemas entre casais possam ser solucionados. O que segundo o psicólogo costuma ocorrer frequentemente é que a maioria das pessoas tende a romantizar os relacionamentos e acredita que um deve conhecer o outro apenas por gestos e olhares, mas nem sempre as pessoas têm a mesma percepção e às vezes necessitam de uma explicação e que as insatisfações sejam mencionadas.
 
“É preciso que o casal consiga se comunicar de maneira verbal e não - verbal, que possam falar abertamente sobre preferências, desejos, fantasias, e até mesmo sobre coisas que não gostam, para fazer deste encontro algo especial para ambos”, destaca.

 

Mulheres podem e devem gozar

 
Se durante muito tempo a mulher renunciar a sua autonomia sexual e agir apenas para agradar seu parceiro, o encontro sexual deixa de ter sentido e surgirá o desinteresse.
 
“Caso estejamos falando de uma mulher sem qualquer tipo de disfunção sexual, pode ser que venha a desenvolver alguma, como anorgasmia (falta de orgasmo com o companheiro(a) ou em qualquer outra relação), inibição de desejo sexual (falta ou baixa do interesse sexual), dispareunia (dor, antes, durante ou depois da atividade sexual), ou vaginismo (incapacidade de penetrar e introduzir objetos na vagina)”, alerta o psicólogo.
 
O importante é que a mulher não “mutile” seus desejos ou se conforme com a falta de desejo. Diferente do que durante séculos foi imposto pela sociedade, sexo não é vergonha, é saúde e bem-estar.
 
“Quando esta situação (falta de prazer) é recorrente, independe dos esforços e este casal não consegue sanar a dificuldade, acho que podem pensar em procurar um profissional. O profissional pode ajudar em uma reeducação sexual, a ajudar a entender e repensar incompatibilidades sexuais do casal e trabalhar em um processo terapêutico caso seja necessário”.
 Conheça o Tribulus Terrestris
 
Psicólogo e Especialista em Psicoterapia Sexual, Diego Henrique Viviani
Site: www.diegohvpsicologia.com.br
 
 

Referências
 
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: A vontade de Saber. Trad. Maria Thereza de Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 13ª ed. Rio de Janeiro, Graal, 1988.
 
Sexualidade Feminina: Questões do cotidiano das mulheres - Universidade Federal de Santa Catarina: http://cursos.unipampa.edu.br/cursos/cursoespenfsaudedamulher/files/2012/10/Sexualidade-feminina-Questoes-do-cotidiano-das-mulheres2.pdf
 
Sexualidades femininas e prazer sexual: uma abordagem de gênero - Universidade Federal de Santa Catarina: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/90781/271860.pdf?sequence=1



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