CONHEÇA ALGUNS DOS RECURSOS UTILIZADOS PARA DESPERTAR A NOÇÃO DE CORPO EM QUEM TEM TEA
Por mais que constantemente se pesquise e se discuta sobre o autismo é sempre importante reforçar que medidas efetivas devem ser tomadas para a melhora da qualidade de vida de quem tem o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
A especialista em Educação Especial e Psicomotricista, Luciana Brites, salienta que atualmente no Brasil existem aproximadamente dois milhões de pessoas com autismo e por isso, é fundamental pensar na inclusão dessas pessoas a fim de diminuir preconceitos. E essa inclusão pode ser realizada por meio da compreensão da psicomotricidade que é uma ciência que procura dar significado ao movimento, que busca compreender por que determinado movimento é realizado.
De acordo com o estudo A formação de professores e a educação de autistas, a autora reflete sobre a importância do encorajamento para que o educador se mantenha dedicado a aprender por meio de conhecimentos científicos e por meio da prática reflexiva. Ainda assim, podem surgir momentos de incerteza, mas que devem ser enxergados como mais um fator de encorajamento para o exercício do ensino à criança especial.
A educadora explica que uma das maiores dificuldades para o autista é organizar os movimentos e explica que para fazer alguma coisa, há uma sequência de atos e movimentos e organizações motoras, para se chegar num fim. Assim como esclarece que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode vir acompanhado de outros problemas como é o caso do TDAH (Alterações cerebelares): “O cerebelo é como o maestro do movimento, é a parte do cérebro que organiza e que confere ‘melodia’ ao movimento e é o que é alterado das crianças que têm TDAH e nas crianças com TEA também”.
Segundo a pesquisa O corpo no autismo, ao falar de corpo, o objetivo é auxiliar o autista a superar as suas dificuldades, permitindo o seu desenvolvimento em outros planos, oferecendo novas maneiras de expressão, favorecendo a conscientização, possibilitando a esse autista acessar funções importantes como o olhar e o tocar e consequentemente melhorando a sua qualidade de vida.
A psicomotricista esclarece que dentre as várias teorias que explicam o autismo, há a teoria da Coerência Central, que se baseia nas dificuldades que as pessoas têm de juntar as partes, ver o todo, generalizar e extrair conceitos, de maneira que se possa compreender algo resultado do que foi unido das partes e abstraído:
“O corpo é a junção de partes e só pode ser compreendido como um corpo quando se enxerga o mesmo em totalidade. Uma das habilidades que está muito alterada em pessoas que têm o autismo é a noção corporal. Autistas apresentam dificuldades em entender o corpo como um todo e por isso é tão importante trabalhar os aspectos psicomotores ”.
Outra teoria dentro das atividades psicomotoras explicada pela especialista é a das Funções Executivas, que engloba os mecanismos que auxiliam as pessoas a se organizarem, a se adaptarem a situações novas, descobrirem estratégias para resolver problemas: “É planejamento, ter a noção do meio e saber se organizar para tomar alguma atitude, para organizar o pensamento e depois o corpo”.
ATIVIDADES QUE PODEM DESPERTAR A NOÇÃO DE CORPO NA CRIANÇA AUTISTA
Segundo o estudo Autismo Infantil, de 1 a 5 crianças apresentam o autismo a cada 10.000 casos, sendo que desta estimativa, há uma proporção de 2 a 3 homens para 1 mulher.
A especialista explica que o autista tem dificuldade de se perceber no espaço e que o corpo precisa estar relacionado com o espaço e conseguir se distinguir de determinado ambiente. Outra dificuldade explicada por ela é a integração visuo-motora que no caso dos bebês, é a mão que guia o olho (colocar a mão e olhar), mas conforme o desenvolvimento é o olho que passa a guiar a mão e a diferença de coerência central interfere nisso em crianças autistas:
“Para uma criança autista, por exemplo, não se pode aplicar as tradicionais atividades com pontilhados, porque essas atividades demandam a junção de pontos, de partes e a grande dificuldade do autista é realizar essa junção. Então é sempre importante dar ao autista algo previamente totalizado para possa terminar”.
Ela esclarece que por conta do comprometimento da noção de corpo no autista que é uma das principais habilidades dentro da ciência psicomotora, um dos pontos mais trabalhados com o autista é o autoconhecimento do corpo. A psicopedagoga destaca que o passo inicial para o desenvolvimento da noção corporal é a sensação, que auxilia na integração das partes do corpo. Por este motivo, é importante sempre identificar o que desperta o autista para a integração sensorial e um dos recursos mais importantes neste processo é a água, por isso o banho e atividades orientadas na natação podem ajudar muito no desenvolvimento daquele que tem autismo.
Para o desenvolvimento da noção corporal a psicomotricista ressalta que um recurso também muito eficaz costuma ser propor à criança que se desenhe: “Uma dica é colocar um papel craft ou uma cartolina e estimular a criança a se desenhar. Os autistas costumam se encantar ao perceber o próprio corpo, o tamanho, é uma descoberta que agrega em muito no desenvolvimento da criança”.
Mas não é só isso, outros recursos como quebra-cabeças, música e tantos outros, podem ser explorados.
É sempre válido dar à criança todas as ferramentas possíveis para se desenvolver e conquistar qualidade de vida.
Luciana Brites - Pedagoga; Especialista em Educação Especial; Psicopedagoga e Psicomotricista.
Fontes
ConAutismo – Congresso Nacional de Autismo: congresso.conautismo.com.br
A formação de professores e a educação de autistas. Realizado por: Sílvia Ester Orrú: atividadeparaeducacaoespecial.com/wp-content/uploads/2014/07/FORMA%C3%87%C3%83O-DE-PROFESSORES-PARA-A-EDUCA%C3%87%C3%83O-DE-AUTISTAS.pdf
O corpo no autismo. Realizado por: Fabiana S. Fernandes: pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1676-73142008000100013&script=sci_arttext&tlng=en
Autismo Infantil. Realizado por: Francisco B. Assumpção Jr; Ana Cristina M. Pimentel: www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-44462000000600010&script=sci_arttext&tlng=pt