Dificuldades até chegar ao diagnóstico de endometriose

2/3/2016        

OS IMPASSES QUE IMPEDEM AS MULHERES DE UM DIAGNÓSTICOS PRECOCE DO PROBLEMA

 

Em entrevista à rádio CBN, Eduardo Schor, médico e professor do Departamento de Ginecologia da Unifesp, explica que o problema da endometriose costuma surgir no início da adolescência ou em mulheres jovens e que, o grande problema consiste na demora do diagnóstico da doença. Ele aponta que segundo evidências em estudos brasileiros e estrangeiros, o tempo que a mulher leva para suspeitar de algum sintoma até a descoberta por meio do especialista costuma ser de 8 a 10 anos.
 
Larissa Matsumoto, ginecologista e obstetra, explica que o diagnóstico de endometriose geralmente ocorre tardiamente até mesmo em países desenvolvidos. Na Alemanha, o diagnóstico costuma ocorrer 10 anos após os primeiros sintomas. Na Bélgica e Irlanda, pode levar de 4 a 5 anos e no Brasil, estima-se que o tempo entre os primeiros sintomas e o diagnóstico seja em torno de 4 a 7 anos – os números entre os estudos brasileiros e estrangeiros costumam divergir, mas ainda assim, se mantêm na média aproximada.
 
Segundo ela, essa demora no diagnóstico ocorre, pois a comprovação da doença é feita por meio da laparoscopia e biópsia dos focos suspeitos: “Porém, hoje contamos com exames que são capazes de nos auxiliar no diagnóstico: ressonância magnética de pelve, ultrassom transvaginal com preparo intestinal e marcadores bioquímicos, como o CA-125 (ver no final da matéria)”.
 
De acordo com o estudo Demora para diagnosticar a endometriose pélvica em serviço público de ginecologia em Campinas, o quadro de esterilidade e/ou dor pélvica são sintomas que podem vir a interferir na qualidade de vida das mulheres que sofrem do problema, podendo levar até mesmo à incapacidade para o trabalho por períodos de tempo variáveis. 
 
Outro agravante em torno do diagnóstico e tratamento era o de que a endometriose não fazia parte do rol de procedimentos da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), e os exames de laparoscopia para endometriose e a lise de aderências, geralmente eram exames pagos em serviço particular pelas mulheres. Mas em outubro de 2014 a inclusão ocorreu, o que dá às mulheres que sofrem do problema mais esperança no tratamento da doença.
 
A ginecologista esclarece que o tratamento da endometriose depende de inúmeros fatores como: intensidade da dor pélvica e dispareunia, comprometimento da qualidade de vida da paciente, desejo pela gravidez, reserva ovariana, locais acometidos pela doença, entre outros.
 
A médica também enfatiza que o tratamento deve ser sempre individualizado. Dentre as medicações possíveis para o tratamento da dor pélvica estão: anticoncepcionais de uso contínuo; progestagênios; LNG-IUS (DIU medicado - Mirena); anti-inflamatórios e analgésicos; análogos de GnRH e inibidores da aromatase: “A escolha pelo tratamento medicamentoso deve levar em consideração os efeitos colaterais de cada um deles”.
 
O artigo Análise da associação entre o quadro clínico referido pelas pacientes portadoras de endometriose e o local de acometimento da doença, ressalta que na maioria dos casos de pacientes com endometriose, a retirada das lesões por meio da cirurgia faz com que haja a diminuição dos sintomas e com que a qualidade de vida da mulher seja melhorada. 
 
“O tratamento cirúrgico de escolha deve sempre visar uma cirurgia completa, para evitar reincidência precoce da doença e procedimentos cirúrgicos repetidos”, alerta a ginecologista.
 
A especialista também explica que a endometriose pode ser classificada nos estágios que são: mínima (estágio I), leve (estágio II); moderada (estádio III) e grave (estádio IV), dependendo da profundidade, tamanho das lesões e tecidos acometidos: “Diante de doenças mais graves o planejamento cirúrgico pode necessitar de especialistas em cirurgia gastrointestinal e urológica”.
 
Em casos em que a mulher sinta dores que a impossibilitem de trabalhar ou de realizar atividades cotidianas, vale informar a um ginecologista de confiança sobre a incidência. Já em casos em que mulher não apresente sintomas, ou seja, casos em que esteja tentando engravidar sem sucesso, vale procurar um especialista para que possa haver uma investigação precisa da causa dessa dificuldade. 
 
O que vale é que a mulher conheça sobre o problema, se informe, busque conhecer sobre o próprio corpo prestando atenção nos sinais que ele emite, para que até mesmo possa “se ajudar” a encontrar o melhor tratamento e um especialista em quem confie.
 
 


Ginecologista e Obstetra - Larissa Matsumoto
MEDICINA REPRODUTIVA 
www.vidabemvinda.com.br
 
 
 
 
 
 
Fontes
 
CA-125 - proteína produzida pelas células ovarianas É um marcador tumoral largamente utilizado em câncer de ovário, sendo também útil para câncer de endométrio e endometriose. Informação disponibilizada no artigo Marcadores Tumorais em Destaque: www.labvw.com.br/2008/material_cientifico/art_marcadores_tumorais.pdf
 
‘A demora no diagnóstico é um dos maiores problemas da endometriose’. CBN - http://cbn.globoradio.globo.com/editorias/ciencia-saude/2015/03/04/A-DEMORA-NO-DIAGNOSTICO-E-UM-DOS-MAIORES-PROBLEMAS-DA-ENDOMETRIOSE.htm
 
BERBEL, Bruna Thomazelli; PODGAEC, Sérgio; ABRÃO, Simões Maurício. Análise da associação entre o quadro clínico referido pelas pacientes portadoras de endometriose e o local de acometimento da doença. Rev Med (São Paulo). 2008 jul.-set.;87(3):195-200
 
Lista completa de procedimentos incluídos no rol 2014. ANS: www.ans.gov.br/images/stories/noticias/pdf/20131021_ro2014_tabela%20procedimentos%20rol.pdf
 
SANTOS, Arlete Maria dos (et al.). Demora para diagnosticar a endometriose pélvica em serviço público de ginecologia em Campinas. Rev. Ciênc. Méd., Campinas, 12 (2): 123-129, abr/jun., 2003.
 

Fonte utilizada pela Dra. Larissa Matsumoto

Endometriose, protocolo clínico e diretrizes terapêuticas, 2010.



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