A criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) enxerga tudo à volta com outro olhar e sensação. O contato físico, sensorial e auditivo pode chegar ao autista tanto de forma lenta, pouco perceptível, como intensa e quase insuportável. Como lidar com todas essas diferenças no dia a dia? E de que forma adaptar a criança autista para os diversos estímulos sensoriais no ambiente em que vivemos. A terapeuta ocupacional e pedagoga Márcia Valiati aborda o comportamento do autista ao se deparar com diversas variações, sendo táteis, olfativas, gustativas, entre outras. Explica sobre a estereotipia motora e como pode ser amenizada gradativamente. Veja:
A especialista comenta que recebe queixas de algumas mães que falam que o filho autista não come batata frita, por exemplo, e só aceita a batata cozida. É comum também a rejeição por temperos fortes, o que deve ser oferecido e faz parte da evolução gustativa da criança. “´Às vezes a criança não come a batata frita, mas a mãe pode experimentar assar a batata cozida, por exemplo. Lógico, a vida é corrida, mas o profissional deve saber orientar a mãe a fazer determinadas opções de alimentação, de coloridos, de sabores diferentes para que a mãe possa ser motivada”, orienta.
Uma forma de estimular a criança hipo, geralmente mais insensível aos sentidos é inserir brincadeiras como corridas, pular, agitar, jogar na piscina de bolinha, entre outros. Porém, da mesma forma que agitou a criança é preciso acalmá-la aos poucos até que volte ao estado normal. A terapeuta diz que esse tipo de atividade é também realizado nas sessões e que muitos pais questionam o fato da criança ir para a terapia e só ficar brincando. “Vamos introduzindo a cada dia, a cada sessão algo novo, algo que essa criança necessite. Então, partimos daquilo que ela tem necessidade sensorial para inserir o que é importante para o seu desenvolvimento”, explica.
As crianças hipersensíveis são mais agitadas e um modo de tranquiliza-las é através do estímulo tátil, por meio do toque e massagens. As texturas variadas também podem ser aplicadas, indica a especialista, como esponjas, mão com creme, escovinhas e vários tipos de materiais para estímulo sensorial da pele.
O brincar de faz de conta é uma das atividades auxiliares para o desenvolvimento sensorial da criança autista. A terapeuta explica que é comum durante as seções proporcionar esses momentos, por exemplo, na piscina de bolinha, fazer de conta que ela está nadando no mar, entre outras atividades. “Às vezes a criança pode não aceitar aqui. Chega em casa ela pode fazer no colchão. Os pais devem estar juntos e alerta, observar qual foi a resposta que essa criança teve em relação a terapia anterior e trazer para ser desencadeados novos desafios”, recomenda. Leia também: A relação da psicomotricidade com o autismo.
Um dos comportamentos que mais incomodam os pais é a estereotipia motora que são hábitos comuns entre as crianças portadoras de autismo, como balançar os braços, correr pela casa, realizar movimentos repetitivos, movimentar involuntariamente as mãos, entre outros. De acordo com a Dra. Márcia esses comportamentos não são bloqueados durante a terapia, mas um modo de trazer sentido é apresentar um significado para a ação: “Quando a criança começa a correr você introduz uma brincadeira de correr atrás dela ou dar uma bolinha de sabão para que ela corra sobre a casa. Você está dando uma função, está introduzindo uma brincadeira e faz uma modificação desse comportamento”, argumenta.
Como lidar com os comportamentos repetitivos?
“Não é necessário bloqueá-los e sim eliminar gradativamente”, explica a terapeuta. Quando a criança gostar, por exemplo, de abrir e fechar à porta a terapeuta recomenda inserir uma brincadeira como o esconde-esconde. Tornar a criança funcional com o tempo modifica essas ações.
Dra Márcia alerta que ao se tratar da evolução sensorial da criança autista a persistência em relação aos estímulos e a perseverança ao se tratar das atividades são os principais fatores. “Persistência não é rotina. Nós podemos quebrar a rotina das crianças, mas precisamos ser persistentes a determinados estímulos para que ela tenha autonomia, iniciativa, para que possa escolher e possa então aprender”, completa.
Congresso Nacional Online de Autismo: http://www.conautismo.com.br/
Corautista.org: http://www.conautismo.com.br/
Dra. Márcia Valiati, Terapeuta Ocupacional e Pedagoga
Doutora pelo programa de pós-graduação em saúde da criança e adolescente (UFPR)