Complexidades em torno da liberação da adrenalina no Brasil

6/4/2016        

A LUTA PELA LIBERAÇÃO DA EPINEFRINA AUTOINJETÁVEL OCORRE HÁ ANOS

 
 
Em 2013, no artigo Adrenalina autoinjetável – quando chegará ao Brasil?  publicado no Blog da Alergia, era comunicado que a Diretoria da ASBAI havia enviado uma carta à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) solicitando a viabilização no Brasil do medicamento epinefrina (adrenalina) em sua forma autoinjetável.  Era enfatizada a necessidade de tratamento imediato em caso de crise anafilática e de que a adrenalina é o medicamento essencial para reverter este quadro clínico. 
 
Os brasileiros que sofrem de alergia e que estão suscetíveis a uma crise anafilática a qualquer momento têm a qualidade de vida afetada e uma constante sensação de impotência diante de crises imprevisíveis. A mesma impotência que pode vir a acometer familiares e amigos próximos dessas pessoas.
 
 

OS OBSTÁCULOS PARA QUE A ADRENALINA SEJA LIBERADA NO PAÍS

 
 
Elaine Gagete Miranda da Silva, médica alergista e coordenadora do Grupo de Anafilaxia – ASBAI, esclarece que atualmente não há nenhum laboratório interessado em comercializar o medicamento no Brasil e de que esse empecilho é decorrente, em parte, da dificuldade do registro devido à grande burocracia que a Anvisa exige:

“Sabemos que para muitos medicamentos e até para proteger a saúde da população há a necessidade de regras para a comercialização de medicamentos. Entretanto, cabe às nossas autoridades proporcionar condições para que todos os que necessitem consigam ter a adrenalina autoinjetável. É difícil a importação e cara também."

A alergista explica que em um primeiro momento a luta da ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia) é para que o Ministério da Saúde providencie a importação da epinefrina para que possa ser distribuída via SUS (Sistema Único de Saúde) como medicação de alto custo: “Claro que mesmo assim, ainda seria um pouco complicado, pois isso exige relatórios, aprovações de auditores etc., (como as demais medicações de alto custo), mas já seria uma luz no fim do túnel para quem não tem como pagar em torno de US$200.00 (duzentos dólares) para ter esse medicamento”.
 
No artigo Anafilaxia: aprenda a identificá-la, publicado no blog Alergia Leite de Vaca, é explicado como a anafilaxia pode ser identificada. O texto explicita os sintomas de acordo com os fatores: dermatológicos/mucosas; doenças respiratórias; sistema cardiovascular; sistema gastrointestinal; neurológicos; em geral e de acordo com o que ocorre geralmente com crianças.
 
Mas o que realmente chama a atenção no blog é que foi criado por Ana Domingues, mãe de uma menina alérgica ao leite de vaca e que quis compartilhar as suas experiências e ajudar pessoas que passam pelo mesmo drama — e existem inúmeros blogs com essa temática de compartilhamento de experiências, o que demonstra ainda mais a necessidade de que exista um olhar mais aprofundado para este problema.

A coordenadora da ASBAI ressalta que a campanha não se restringe apenas à liberação da adrenalina no SUS, mas que o anseio desta luta também é apoiar laboratórios desmotivados para a comercialização da adrenalina autoinjetável e para que enxerguem o Brasil com “outros olhos”:

“E que a Anvisa possa facilitar nesse caso específico a regulamentação do produto. Afinal, não se trata de droga nova. Já temos aqui a adrenalina em ampolas regulamentada. O que é diferente é o dispositivo para a autoaplicação.”

A médica explica sobre a dificuldade para que alguém sem familiaridade com seringas e agulhas possa preparar uma injeção, ainda mais em situações que envolvem estresse e por este motivo, o dispositivo autoinjetável facilita, pois se trata de uma caneta em que basta apertar o botão e o medicamento já está pronto para ser utilizado e na dose correta.
 


 

ADRENALINA COMERCIALIZADA EM FARMÁCIAS

 

A especialista esclarece que atualmente a campanha da adrenalina na farmácia se refere à venda de ampolas de adrenalina e isso porque até mesmo para alergistas que precisam da medicação em seus consultórios e clínicas (já que muitos procedimentos executados podem evoluir para a anafilaxia), é difícil a aquisição do medicamento:

“É considerado medicação exclusiva de uso hospitalar e apenas pode ser adquirido em distribuidoras e não em farmácias comuns. Além do próprio alergista, seria necessário – na falta de adrenalina autoinjetável – que o paciente conseguisse comprar.”

A alergista destaca que no caso das ampolas, caberia ao alergista prescrever e treinar o paciente para o uso e seria necessário haver controle (talvez receita amarela), pelo fato de que a adrenalina não é isenta de riscos e de que a diferença entre a dose terapêutica e a dose letal é pequena e, por isso, existe a preocupação em não se deixar as ampolas à venda de forma a serem comercializadas sem o devido cuidado.

A luta pela liberação da adrenalina autoinjetável decorre de anos, mas é fundamental que não cesse. É importante que as pessoas continuem a compartilhar suas experiências a fim não se sentirem sozinhas na vivência desse drama. Mas, sobretudo, é importante que aqueles que não sofrem de alergia e que nunca enfrentaram um caso de anafilaxia (pessoal ou de alguém próximo) também lutem em prol das pessoas que enfrentam o problema. No fim das contas, não somos todos seres humanos frágeis que dependem de fôlego de vida para existir?

 
 
 
Elaine Gagete Miranda da Silva - Médica alergista - Coordenadora do Grupo de Anafilaxia - ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia)


 
 
Fontes 
 
Precisamos de adrenalina autoinjetável no Brasil! - ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia): www.sbai.org.br/secao.asp?s=51&id=898
 
Adrenalina autoinjetável – quando chegará ao Brasil? – Blog da Alergia: blogdalergia.blogspot.com.br/2013/03/adrenalina-auto-injetavel-quando.html
 
Anafilaxia: aprenda a identificá-la. Alergia Leite de Vaca: alergialeitedevaca.blogspot.com.br/2016/03/anafilaxia-aprenda-identifica-la.html



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