O diagnóstico precoce do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um fator preponderante para o desenvolvimento da criança. Portanto, quanto mais cedo os pais souberem identificar os sinais e procurar auxílio médico, maiores são as chances de sucesso em relação às terapias e desenvolvimento da linguagem.
No Brasil o diagnóstico do autismo costuma ser atrasado e essas crianças passam despercebidas pelos pais e principalmente profissionais da área da saúde. Dados divulgados nos Estados Unidos pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) apontam que uma a cada 50 crianças possui o autismo, embora não exista estatística entre os brasileiros acredita-se que a proporção seja muito semelhante.
A fonoaudióloga e psicopedagoga Sheila Leal alerta sobre a importância de identificar o transtorno ainda nos primeiros anos de vida, principalmente através da observação da linguagem e habilidades motoras. A médica exemplifica diversos comportamentos comuns do espectro autista em bebês e recomenda aos pais a observação de qualquer atraso: “Hoje nós sabemos que a medicina estuda muito a questão do Transtorno do Espectro Autista. Principalmente em outros países, temos observado o diagnóstico precoce e o quanto isso faz diferença para os pais e todos os profissionais que irão trabalhar com essa criança ao longo do tempo”, pontua. Leia também: Os educadores e o autismo, constante aprendizado.
A especialista comenta sobre o desenvolvimento da criança a partir do nascimento até 3 meses de idade. Nessa fase o bebê começa a abrir os olhos, enxergar, mesmo que de forma ainda nebulosa, é nítido o reconhecimento dos reflexos da luz e principalmente, já identificam, por exemplo, a voz da mãe, o que é chamado de fase pré-linguística.
A médica recomenda atenção especial a partir dos 5 meses para as situações em que a criança não emite nenhum tipo de som: “São sons chamados de guturais, a criança provoca gemido e geralmente faz alguma atividade sonora. Fiquem atentos se o seu filho ou paciente já está com 4 ou 5 meses e essas vocalizações não tenham acontecido”, salienta.
Os bebês para a surpresa dos pais costumam entre os 3 meses esboçar sorrisos e a fonoaudióloga explica que nesses casos não quer dizer que a criança compreenda o gesto, mas sim realiza como reflexo: “Muitas vezes quando a gente tem já a presença de TEAS isso não existe, a criança não sorri, ela não identifica esses sinais de reflexos. O ato de sorrir pode apresentar novos sinais em torno de 1 ano de idade, aponta a especialista, “Uma característica da criança autista é ela sorrir para qualquer coisa, é o que costumamos abordar como um sorriso sem função, pois ela não possui o entendimento”, completa.
O olhar do bebê emite informações ao se tratar do autista, de acordo com a médica o contato visual é diferenciado entre as crianças com o transtorno: “É preciso atentar-se aos bebês que não olham fixamente, que possuem um olhar distante”. Durante a amamentação, por exemplo, ou ao dar a mamadeira, é comum a troca de olhares entre a mãe e o bebê, alerta a especialista: “Observe como é que está sendo esse contato visual e como é a relação de afetividade”.
A partir dos seis meses, ou antes, as crianças já começam agarrar os objetos e leva-los até a boca, por outro lado, há bebês com dificuldades de segurar objetos, para esses casos a especialista indica procurar auxílio médico. “A partir dos 6 meses a criança nessa fase costuma reagir aos estímulos do ambiente. Gostam de ouvir o som da campanhia ou ouvir a mãe cantar.. já outras crianças têm muita dificuldade com essa questão do som e começa a chorar com frequência, vale um sinal de alerta”, ressalta.
Durante essa fase a médica comenta que é comum o bebê sentir prazer em emitir sons, balbucios e pedir atenção através desses gestos. “A gente já vai ouvir um: mã mã mã, pá, pá, pá. E em paralelo, temos os bebês muito quietos, que não articulam, que não buscam essa questão da boquinha", coloca. Leia também: O desenvolvimento do austista por meio da psicomotricidade.
A partir de 1 ano até geralmente 1 ano e 5 meses é quando a criança começa a andar, um período em que a comunicação e a compreensão da linguagem é mais intensa: “A criança já aponta, ela já vai pedir as coisas e trabalha com a vocalização de forma mais frequente. O bebê autista tem dificuldade em fazer esses pedidos, até mesmo de apontar”, justifica.
Uma observação importante que a médica pontua é o comportamento da criança ao mover as mãos e a sua mobilidade corporal, compreensão: O bebê TEA ele não desenvolve movimentos simples, como dar tchau, algo comum entre as crianças. “Eu gosto de perguntar se na hora de cantar o parabéns no aniversário de 1 ano o bebê bateu palma, se teve algum tipo de interação. Muitas vezes, quando a gente tem a presença de TEA isso não ocorreu”, sinaliza.
A pedagoga alerta que esses podem ser alguns dos sinais transmitidos pelo bebê com TEA. Para o diagnóstico preciso é necessário o acompanhamento médico e a análise adequada do caso individualmente. Porém, todos esses exemplos podem ser indícios, ao notar qualquer anormalidade não hesite em procurar o auxílio de um especialista.
Referências:
Conautismo-Congresso Nacional de Autismo: http://www.conautismo.com.br/#home
http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2013/04/02/estima-se-que-90-dos-brasileiros-com-autismo-nao-tenham-sido-diagnosticados.htm
Sheila Leal, Fonoaudióloga, Psicopedagoga
Especialista em Dislexia pela ABD, trabalha há 14 anos na área clínica e escolar